Os “sem festa”

papainoelbebado (1)

Juro pra vocês que está tudo bem, estou viva, respirando, feliz, cheia de planos e esse não é um texto tristonho! É uma reflexão bem humorada desses tempos natalinos.

A gente demora pra se acostumar com as mudanças da vida. Às vezes, acha que já entendeu que as coisas mudaram, superou, seguiu em frente, mas ainda quer voltar atrás, segurar o que já passou, viver aquilo de alguma maneira e a emenda sempre sai pior que o soneto.  Eu ando fazendo isso há anos, sem me dar conta, ou fazendo de conta que não sei, me agarrando aos restinhos, tentando inventar um jeito de salvar o que já não existe e, ao invés de me sentir bem, acabo sempre por me sentir mal.

Eu que adoro fazer “a desapegada” e sou a primeira a dizer que quando a vida muda a gente não pode gastar energia esperneando, ainda sofro com coisas que não fazem mais parte da minha vida, que ficaram em outra época. Racionalizei, entendi, até acho graça, mas ainda tem uma dorzinha lá no fundo. Quero acabar com ela, de uma vez! Silenciar o mimimi! Então escrevo. Escrever é a minha maneira de organizar as ideias, de por ordem nas angústias e diminuir a ansiedade. E quanta angústia e ansiedade essa época do ano nos impõe!

Não faz muito tempo, o meu final de ano era uma corrida de obstáculos. Tinha umas seis confraternizações, uns quatro amigos secretos, duas festas de família, a festa da firma, as das turmas das crianças, do condomínio, um sem fim de lembrancinhas pros encontros com as amigas da faculdade, da pós, das mães dos amigos do Gui e por aí afora. Reclamava, surtava, gastava os tubos, comia demais, tomava um ou dois pilequinhos, me cansava horrores, dizia que nunca mais, que não devia ser assim. Mas adorava! Ah como eu amava aquela muvuca, eu sou uma pessoa muito sociável, então curtia mesmo juntar todo mundo, dar beijo, abraço e mandar um “te considero muito”. Mas a minha vida mudou. Mudei de cidade, mudei de trabalho, os meus filhos mudaram de escola, de turma, de turno, a minha família mudou. E os efeitos dessa mudança ainda são sentidos em muitos aspectos da minha vida.

Aqui em Porto Alegre fiz todo esforço que era possível. Tentei de verdade!
No mestrado fiz muitos colegas, umas duas amizades, que pela enorme diferença de idade e de estilo de vida, resultaram em algumas curtidas nas redes sociais. A turma do Gui do colégio se desfez umas três vezes, de modo que conheço, mais ou menos, umas quatro mães. A Ana mudou de turno e se juntou a uma turma recém formada, faço um esforço legítimo pra interagir com o grupo de mães que é bem heterogêneo. Fiz amigas que eram mães de amigos dela. Duas mudaram de escola, uma de cidade, os afetos ficaram, mas fomos nos vendo cada vez menos. Trabalhei dois anos num escritório que não fazia confraternização de final de ano. Eu, que não queria me entregar, fazia um churrasquinho pros colegas mais próximos, era um saco! Mega forçado. Também inventei uma confraternização com a Tia, que é quase uma mãe pra mim aqui em Porto Alegre. Pobre Tia! Sem querer, impus à ela a obrigação de fazer um “natalzinho” para gente, justo ela que odeia essas convenções sociais, nem pinheiro tem!

Esse ano minha Tia vai ter outra festa, não vai rolar! Então tive duas confraternizações de final de ano animadíssimas.

Uma na clínica da minha mãe, velhinhos com demência, cadeiras de rodas, sondas, familiares, salgadinhos e um bolo ruim. Um teclado a todo vapor, a televisão em volume baixo, o músico com cabelo pintado. As funcionárias da clínica, empolgadas, dançando, às quatro da tarde, “só quero que você me aqueça nesse inverno”, numa Porto Alegre de quarenta graus. No fim, até dancei “Sandra Rosa Madalena”, pro desespero dos meus filhos contrariados, dizendo “mãe, pelo amor de Deus!!!!”.

A outra foi com a turma das piscinas do clube, aquele buffezão, Simone rolando solta, de vez em quando, também tocavam o hino do Grêmio ou do Inter, sorteio de panetone, vinho barato. Tudo super chic! Umas sessenta pessoas, seis eram da natação, e o resto da hidro, o que elevou a média de idade da turma pra uns 70 anos. A natação é um esporte solitário, cada um nada o seu treino e a gente quase não se fala, então fiz um esforço gigante pra ser, como sempre, a mais animada da mesa. Olhei, com atenção, umas trezentas fotos da associação de bonsai no celular do colega que estava à direita e falei, com desenvoltura, sobre os benefícios da natação e do pilates pra colega da esquerda, rezei pra que o sorteio acabasse logo e voei pra casa, às gargalhadas, dentro do Uber.

Se eu tô triste? Acho que não. Estou achando tudo muito engraçado! Tive meus momentos de ansiedade, uma invejinha das mil confraternizações dos meus amigos nas redes sociais. Mas parece que, finalmente, entendi que o que casa oferece é isso! Relaxei! É essa a vida que me cabe nesse momento. Fiz o meu melhor, não rolou! Faço o que? Continuo forçando uma coisa que já não existe, ou relaxo e me divirto com o que eu tenho? Na dúvida, ano que vem tô pensando em “contratar” um pessoal pra fazer um amigo secreto fake, tocar uma musiquinha, assar um pernil, tomar uma espumante, essas coisas bem natalinas. Faço mal?

Boas festas pra vocês! Pra quem tem muitas festas, pra quem não tem nenhuma, paramos de brigar com a vida e com o que ela nos traz, ficamos em paz e, vamos curtir o que nos cabe, de um jeito verdadeiro e honesto. Beijos imensos pra vocês!!

12 comentários sobre “Os “sem festa”

    • Aceitar a mudança Xuxu! E ver nela beleza e graça, porque sempre há beleza e graça nas coisas, mesmo que elas não sejam exatamente como a gente gostaria que fossem, ou acha que deveriam ser. Se continuamos desejando o impossível, sempre vai haver inquietação. Love you!

  1. Gabi, ótima em materializar ou palavrear sentimentos! Me deu até vontade de escrever sobre a minha sofrência natalina! O X da questão continua sempre o mesmo: a expectativa, o diabo da expectativa!

    • Márcia que vergonha! Seis meses pra responder um comentário 🙈 acho que precisas escrever!! E o blog tá super à disposição pra publicar!! Tão bom a gente saber que não tá sozinho! Super beijo!!! Obrigada por ler e comentar!

  2. Gabiiii… esse é o preço que pagam os que, como nós, tiveram “Natais” de encher o coração!!! Por aqui nos reorganizamos, mas mudança de cidade muda mesmo! Beijo grande! Bom Natal!

    • Bi querida, mil anos depois, tomei vergonha na cara pra responder 🙈 tens razão, acho que o nosso “problema” são os natais memoráveis do passado! De todo jeito e de maneiras diferentes é possível ser feliz no Natal!! Um pouco de humor ajuda!! 😉super beijo e obrigada por ler e comentar!!

  3. Gabi, o mais legal dos teus textos é que não dá pra dizer que você faz tipo pra escrever. Não! É vc inteira nas palavras e nas situações, eu super imagino cada cena! A parte da musica do Magal, então! Nem posso dizer nada, pois já puxei o bonde da dança dessa música em algumas das nossas festas do escritório! Kkkkkkk
    Risadas a parte, Gabi, eu super te entendo e, inclusive, tenho comentado com o Felipe a respeito: saudades seu um Natal animado, com gente que dança, abraça, bebe uns pilequinhos, capricha num Pinheiro e numa ceia massa! Estamos chegando a conclusão que a gente tem que reunir as pessoas queridas, que também querem celebrar e fazer um Natal “da turma”, pra que tudo-nada viveu manhã festa de tradição. Se a ideia vingar, vai que a gente não faz umas edição gaúcha, ou vocês não têm mais um motivo especial pra visitar Floripa? Beijos, saudades!

    • Rob, querida, sou uma blogueira de última linha!! Demoro seis meses pra responder um comentário!! E os teus são sempre deliciosos!! Conta comigo pra armar aquele Natal mané!!! Super beijo queridona, espero que esse comentário atrasado te encontre bem!!

  4. Querida! A vida é cheia de de alegrias e despontamentos!! O ser humano é muito complicado! Você ! Tão divertida e sociável está se sentindo assim, imagina quem tem muita dificuldade para se relacionar e levar a vida numa boa?? É tremendamente mais solitária!! E a vida segue…

    • A vida é mesmo muito solitária, às vezes! E essas datas colocam um luz gigante sobre essa condição, então a gente precisa achar um jeito de lidar com isso, acho que o humor é um deles. O amor é o melhor remédio, mas rir ajuda bastante! Super beijo

Deixe um comentário